Título: Cartão SOPREV
Autor: Silma Assunção de Melo Lopes
Resumo
O objetivo do programa Cartão SOPREV é assegurar a manutenção da saúde bucal das crianças da comunidade delfinopolitana, em especial aquelas com até 05 anos de idade.  E desta forma, fortalecer os princípios de equidade e integralidade do Sistema Único de Saúde. Antes de completar o primeiro mês de vida, a criança é cadastrada no programa através da realização de exame clínico onde os pais recebem orientações quanto a possíveis alterações encontradas na cavidade bucal e sobre a importância da amamentação. Basicamente funciona da seguinte maneira: a médica pediatra após o parto, no momento da alta, entrega o cartão SOPREV (Saúde Oral Preventiva) para a mãe e encaminha a criança para o cirurgião dentista cadastrá-la no programa. A equipe da ESF (Estratégia Saúde da Família) médico, enfermeiro e agentes também fazem este encaminhamento e cobram das mães se estão dando seguimento no cartão. As consultas são realizadas nas seguintes etapas: de 0 a 1 mês; 3 meses; 6 meses; 1 ano; 2 anos; 2,5 anos; 3; 4 e 5 anos, onde são feitas todas as orientações de prevenção, promoção e educação em saúde além de realizar tratamento curativo sempre que necessário. Após cinco anos de experiência com o cartão SOPREV percebe-se que o índice de cárie dentária nas crianças que frequentaram assiduamente o programa é muito baixo 4,17% se comparado com a prevalência da região sudeste que é de 55,1%. Isto mostra que atitudes preventivas sérias apresentam resultados efetivos. Conclui-se que esta é uma pequena, mas significativa contribuição para se ter gerações mais saudáveis.
Introdução
O Projeto SOPREV, empenhado em propiciar desenvolvimento integral e qualidade de vida às crianças desde o seu nascimento, sentiu a necessidade de criar um cartão para controlar e acompanhar a saúde bucal das crianças de nossa comunidade, uma vez que dados epidemiológicos referentes ao grupo da faixa etária de 0 a 5 anos são escassos e só recentemente essa faixa etária começou a receber estudos de base coletiva. De acordo com dados da Pnad 2008 (Pesquisa Nacional por amostra de domicílios) 11,7% dos brasileiros nunca foi ao cirurgião dentista, a maior parte está situada entre os brasileiros até 4 anos de idade. Nesta faixa etária chega a 77,9% o número de crianças que nunca visitou um especialista. Segundo alguns autores, menos de 10% (dez por cento) da população até 01 ano de idade, e mais de 50% (cinqüenta por cento) das crianças maiores de 03 anos de idade são afetadas pela cárie dental, sendo o tratamento, na maioria das vezes, eminentemente sintomático e curativo; faz-se necessário torná-lo mais educativo e preventivo, bem como mais precoce uma vez que sua massificação no serviço odontológico a partir dos 06 anos de idade não é solução ideal. A meta do programa é cadastrar no cartão SOPREV todas as crianças que nascerem, no município de Delfinópolis, a partir do momento que foi implantado este programa e também aquelas que nascerem fora do domicílio, porém com pais residentes no município. O ingresso no programa se dá nos primeiros dias de vida, com permanência regular até os 05 anos de idade. A partir dessa idade, a criança deve passar a freqüentar o programa de atenção escolar, porém conservando o cartão para controle até os 14 anos de idade ou mais, de acordo com a demanda do município. No consultório, o atendimento aos bebês é feito no colo da própria mãe, pai ou responsável, as crianças maiores, em cadeiras odontológicas convencionais. O atendimento é realizado em três fases: diagnóstica, educativa e preventiva, e, curativa. Esta última fase é realizada apenas quando há necessidade precisa.
Lições aprendidas
Atividades simples como essa faz a diferença para levar informações importantes para a comunidade, pois, para os pais a criança é o mais importante então eles estão receptivos às informações e aceitam mudanças em relação à higiene, dieta e amamentação e com isto aprendem também a cuidarem de si. Os profissionais da ESF (Estratégia da Saúde da Família), médico pediatra do hospital e cirurgiões dentistas ficam em sintonia, trabalham juntos com o objetivo de levar qualidade de vida a estas famílias envolvidas no programa. Percebemos o quanto é importante nosso trabalho para a comunidade porque estamos conseguindo por abaixo um mito de que bebê não precisa de cuidados com sua boca, através da prática e atitudes, num exercício de inclusão, mostrando que os recém-nascidos e as crianças até 05 anos de idade também necessitam de cuidados quanto a sua saúde bucal e integral. Sentimos que somos importantes para a promoção e prevenção da saúde o que nos faz otimistas quanto atores da Atenção Básica. O maior obstáculo enfrentado para a realização do Cartão SOPREV foi o abandono de algumas mães para dar continuidade nas consultas após o cadastramento das crianças. Estão previstas ações de educação em saúde com o objetivo de reverter esta situação. E uma grande alegria para nós é o envolvimento do pai da criança que acompanha as mães algumas vezes, e, outras vezes vão sozinhos levar a criança pelo fato da mãe estar trabalhando, isto é muito gratificante.
Objetivos
1-      Geral:
·         Assegurar a manutenção da saúde bucal das crianças da nossa comunidade, em especial aquelas com até 05 anos de idade.  E desta forma, fortalecer os princípios de equidade e integralidade do Sistema Único de Saúde.
2-      Específicos:
·         Educar os pais e a família, motivando-os em relação à adoção de medidas preventivas tanto para o bebê quanto para eles próprios
·         Realizar tratamento clínico: envolvendo remoção de placa bacteriana, uso de selante e aplicação de flúor tópico de acordo com o risco de cárie; e tratamento curativo sempre que necessário.
·         Realizar o tratamento caseiro: a ser feito pelos pais ou responsáveis. Inclui o controle da dieta, remoção da placa bacteriana, limpeza da cavidade bucal e aplicação tópica de flúor.
·         Incentivo ao aleitamento materno.
Descrição das técnicas e métodos 
Basicamente funciona da seguinte maneira: a médica pediatra após o parto, no momento da alta, entrega o cartão SOPREV para a mãe e orienta-a levar a criança, ainda dentro do primeiro mês de nascimento, em consulta com o cirurgião dentista para cadastrá-la no programa. A equipe da ESF médico, enfermeiro e agentes também fazem esta orientação e cobram das mães se estão dando seguimento no cartão. O cirurgião dentista faz as seguintes ações:
0-1 mês: avaliação clínica e orientação sobre a importância da amamentação. Este momento é muito importante, pois a criança pode nascer com alguma má formação ou mesmo um cisto gengival do recém-nascido, que são lesões comuns que regridem espontaneamente, tendo sido relatadas na metade dos recém-nascidos.
3 meses: a higiene bucal deve ser iniciada. Nesta fase a mãe é orientada para enrolar uma gaze ou ponta da fralda no seu dedo indicador, umedecer em água filtrada e levar à boca do bebe, passando pela gengiva, bochecha, língua e rolete gengival. Fazendo movimentos leves de dentro para fora. Esta é uma fase importante porque a mãe irá se acostumar a fazer a higiene e a criança se acostumará a receber a higiene, é uma fase de adaptação, logo quando sair o primeiro dente, a mãe se sentirá apta a fazer a correta higienização.
6 meses: Por volta dos seis meses de idade, em média, a gengiva do bebe poderá se apresentar abaulada e manifestando alguns sintomas como: irritação, estado febril, fezes mais líquidas e outras. Para alívio do desconforto do bebe indica-se mordedores de boca e massagens na gengiva, realizadas pela mãe. É neste momento que a mãe deverá se preocupar com a amamentação à vontade, principalmente a noturna. Todos sabem a importância do leite materno, mas a partir da erupção do 1º dente, após a alimentação a higiene do dente e gengiva deverá ser mais criteriosa e regular.
1 ano de idade: a criança certamente apresentará os dentes da frente. A mãe é orientada para iniciar a escovação com uma escova própria e também não esquecer a língua, nela fica bactérias e restos de alimentos, que também devem ser removidos. Em relação à pasta de dente, elas devem ser introduzidas o mais tarde possível, e de preferência usar uma pasta sem flúor. Somente quando a criança aprender a cuspir ela poderá usar a pasta com flúor, infantil ou adulta. 
2 anos de idade: nesta fase a dentição da criança estará se completando, portanto já possui dentes da frente e do fundo, então a escovação deverá ser feita com escova infantil (cabeça pequena e cerdas bem macias) não se esquecendo do uso do fio dental, que complementa a boa higiene sempre realizada pelos pais ou responsáveis, pois a criança não possui coordenação suficiente para realizá-la sozinha. Com um bom incentivo, essa obrigação se tornará um momento agradável e divertido para a criança. Dos 2 anos aos 05 anos de idade: a criança já irá conseguir escovar os próprios dentes, mas por distração ou pressa para voltar às brincadeiras poderá esquecer-se de fazê-lo, por isso o monitoramento dos pais é de extrema importância, já que a prevenção é a melhor forma de não obter problemas futuros. Quando existe algum caso de anquiloglossia mais acentuado, pois a maioria das crianças nasce com o freio lingual curto, fazemos a cirurgia no hospital onde é realizada pelo cirurgião dentista e acompanhada pela médica pediatra.
Principais resultados alcançados
Os resultados obtidos nesse Programa demonstram a baixa prevalência de cárie na população-alvo obtida através de ações de promoção da saúde e prevenção dentro de uma perspectiva de visão integral de saúde bucal. Apesar de ter criado consciência de saúde bucal na população de Delfinópolis detectou-se também dificuldades com relação à permanência no cartão SOPREV por parte do grupo envolvido no Programa. De acordo com dados da Pnad 2008 (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) 11,7% dos brasileiros nunca foram ao cirurgião dentista, a maior parte está situada entre os brasileiros até 4 anos de idade. Nesta faixa etária chega a 77,9% o número de crianças que nunca visitou um especialista (segundo dados da Pnad) então percebemos o quanto é importante nosso trabalho para a comunidade porque conseguimos com que esta faixa etária tenha acesso aos serviços de saúde bucal.
Os profissionais, ao realizarem este trabalho inter e multidisciplinar, estão crescendo enquanto equipe, em sabedoria, humanização, técnicas e maneiras adequadas para um atendimento dentro das normas e princípios do SUS.
               Gráfico 1                                                 Gráfico 2
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Conclusões e recomendações para a saúde pública
O Programa Cartão SOPREV apresenta custo/beneficio baixo de caráter preventivo educacional que se destaca pela ação contínua com resultados efetivos de fácil implantação, principalmente em pequenos municípios.
Conclui-se que esta é uma pequena, mas significativa contribuição para se ter gerações mais saudáveis.
Referência Bibliográfica
PINTO, Vitor Gomes. Saúde Bucal Coletiva. Programa em Saúde Bucal. 4ª Ed., Santos Livraria, p. 99-137, São Paulo, 2000.
SALOMÃO, Graziela & PANTANO, Mariana. Prevenção é a chave para garantir qualidade de vida. APCD jornal: São Paulo, ano 44, nº 637, maio de 2010.